sexta-feira, 17 de julho de 2009

Meu lado mulherzinha

Quem não tiver, que atire a primeira pedra.

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Todo mundo se apaixona distraidamente. É coisa que não se decide e só é percebido quando já está em flor.

“Como você o conheceu?”

É a primeira pergunta da saga. Foi-se o tempo em que se tinha vergonha de dizer que conhecemos pessoas pela internet. Pode ser gastando horas entrando e saindo em salas de chat, visitando um perfil de Orkut por curiosidade, retribuindo um comentário que chegou no blog ou fotolog. Não importa tanto. Quer dizer, importa sim. Se foi muito por acaso, a apresentação ganha um peso mágico para os outros, inclusive para você, que conta como foi cheia de orgulho, dizendo que ele nem pediu o MSN logo de cara, como se isso fosse um baita sinal de respeito.

“Cê ta gostando dele?”

A resposta é sempre evasiva, um “Eu?! Nãao...” que não convence ninguém, sempre seguido de um “sei... e ele?”. Pronto. É uma verborragia sem fim. Todos os achismos e as benditas e traiçoeiras expectativas explodem na boca num fôlego só. Você cita cada mensagem de MSN, cada torpedo [não importa se ele era um resmungo sobre a vida ou algo que te diz respeito], cada ligação. Cada palavra é cuidadosamente [e geralmente erroneamente] analisada, decifrando querências que podem existir pro trás das virgulas. Sempre na defensiva, claro. É o nascimento e fixação dele no seu mundo.

“Como foi?”

Você pode contar de forma afobada, engasgando nas próprias palavras, cortando várias coisas que vai contar depois. Pode falar “foi per-fei-to” umas 50 vezes antes de começar a contar [ou no meio da estória... ou no fim... ou o tempo todo, o que é mais provável], fazendo aqueles sons estranhos que não são nem suspiros nem exclamações humanamente conhecidas. Gesticula feito uma doida, quase quebra o maxilar de tanto sorrir. Não sei como os meninos contam essas coisas [Se é que contam. Já ouvi um me dizer que o relato se resume a “To pegando uma mulezinha aí...”. Meninos... blé.]. Muitos acham um absurdo sabermos tanto umas das outras. Mas é fundamental! É como ler o livro depois de ver o filme. E é como conseguimos buscar melhor a aceitação/aprovação das melhores amigas. Sim, nós buscamos isso e o contentamento compartilhado é necessário. É o ele existir pacificamente no seu mundo.

“Já tem quanto tempo mesmo?”

Contam-se os segundos. Você pode vê-lo todos os dias, semanalmente ou quinzenalmente. Não importa. Ingenuamente a seriedade da relação [para você!] está ligada a quanto tempo a coisa vem acontecendo, como se fosse plano de carreira. Tenta definir o “o que ele é meu, afinal?” Ah, e, claro, obviamente você também quer saber o que é para ele, até onde vai na vida dele, se existe além da cabeça dele, como para familiares e amigos. Enfim, tudo que envolver os pronomes “você” e “dele” se torna alvo da sua desesperada, incontrolável, praticamente [praticamente é só um eufemismo] insana curiosidade. Mas é um ponto tão obscuro e temeroso pra se pensar que às vezes nem suas amigas sabem dos seus temores [Pode ser que você continue sendo “a mulezinha que ele ta pegando”]. Óbvio que não assumimos a dúvida, mesmo que todos saibam. Gritamos “Ele não é meu namorado! Eu não estou namorando!” com um desejo gigante de que fosse mentira. É a eterna e inútil autodefesa. A essa altura certamente você já pensa até em nomes para os filhos...

“Como vocês estão?”

A pergunta deveria ser “Como você está?” e a resposta oficial é “Indo...”. Para as amigas é “Na merda!”. Para as que têm a infelicidade de se apaixonarem pelos que têm problemas em deixar claro o que querem [É uma boa tática, sabe? Se ele não promete nada, você não pode cobrar nada. Coisas que nunca aprenderemos a fazer. A habilidade não vem no cromossomo X], esse é o ponto crítico. O celular vira um extensão do corpo. Temos alucinações auditivas; ouvimos o som de sms chegando, ou de um contato ficando online no MSN. Se é o caso de aguardar uma visita ou qualquer forma de comunicação prometida, emails são checados a cada 10 minutos, MSN a cada 5 e celular a cada 2. O tempo também pode ser medido em segundos, dependendo da gravidade da saudade. A parte incômoda é que você se torna extremamente improdutiva. O dia para. Até a respiração fica meio suspensa. É uma espera eterna pela hora que ele costuma ligar ou dar um mísero oi. Até lá a concentração nas coisas beira o zero. E quando ele não aparece, a saudade vira desapontamento que vira tristeza que vira raiva que vira ódio e a partir desse ponto você já adquiriu uma úlcera e nem se deu conta. Isso em milésimos de segundo - enquanto você se descabela, ele está estudando, trabalhando, rindo com os amigos, ensaiando, dormindo... fazendo qualquer outra coisa. Pode até estar pensando em você, mas nessas coisas a nossa mente doente nunca pensa, mais fácil [e mais provável] é que ele esteja se esbaldando na esbórnia nem lembrando de que você existe. Daí você pensa em tudo que quer dizer quando ele aparecer no tom certo pra mostrar a indignação, em como ele estragou seu dia. E quando ele aparece... instantaneamente o mundo volta ao lugar e você fica em paz.

“Decidiu o que?”

Se a coisa está empacada, você precisa ouvir isso daí algumas vezes pra ajudar. As variações de humor ficam mais constantes. Você chora com filmes de cachorros, comerciais de cartão de crédito ou de plano de saúde [como aquelas pessoas podem ser tão felizes?!]. Imagina como seria pedir uma definição, pensa em todas as respostas que ele pode dar e em todas as réplicas que você pode revidar. Jura que não vai chorar quando já está chorando convulsivamente apenas por pensar em como resolver a situação. Com um pouco de sorte, você pode constatar que fez uma tempestade numa xícara de café [copo de água é grande demais]. Sem sinal dela, bem... é chorar um pouco [mentira, você chora até secar] e entrar de luto em todos os espaços reais e virtuais, amaldiçoando a internet por ter trazido a tragédia pra sua vida, ainda com uma esperança estúpida de que ele vá acessar algum pedaço do seu mundo em ruínas e tentar te procurar. E depois de umas semanas, ou dias, com sorte, apertar o F5 para atualizar tudo e retomar a vida.

Por Cíntia Rodrigues - com a colaboração de Lívia Dias.