quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Dublê de retrato

"O meu passado é tudo quanto não consegui ser.
Nem as sensações de momentos idos me são saudosas:
o que se sente exige o momento;
passado este, há um virar de página e a história continua,
mas não o texto.."
(F.P.)


somos a imagem do que não fomos. da vida que nunca tivemos. da música que não dançamos. da viagem que não fizemos.
o filme que não vimos, as palavras que não dissemos, as juras que não trocamos, a despedida que não tivemos.
o que não fomos, essa imagem que somos. resiste. persiste. insiste.

assim (r)existiremos.





ficam os dedos, fica a memória.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um dia, uma pausa.

Dia daqueles em que você constata o fim de uma coisa, um ciclo que se fecha. Aquele dia que você contabiliza perdas, ganhos e danos. O pouco que sobrou, e o que começou com o passar do ano. Sim, há que se pensar sempre que houve algum começo.
Dia de sair e tomar um sorvete com um velho amigo, dia de finalmente arrumar o quarto, retirar as roupas velhas do armário e descobrir que precisa de roupas novas para preencher o vazio das gavetas que ficou após a retirada de tudo o que não serve mais ou que não combina mais com você - mas que você insistiu tanto tempo em deixar ali, quase como lembrança ou por estimação: talvez volte a servir. Talvez volte a moda. Talvez  volte a gostar. No fim você sabe que não dá mais. Aquela saia meio hippie do início da facul não combina mais com você agora, não dá pra ter a sua idade e ainda usar aquilo.
Com um pouco de relutância, você finalmente tira tudo de lá pra dar lugar às coisas que você realmente quer ou precisa, como as tais roupas pra trabalhar. Você lembra que realmente precisa de espaço pras roupas de trabalhar, porque agora é o que você é: uma pessoa que trabalha. Devia significar algo bom, isso.

Um dia você simplesmente constata tudo e faz uma pausa.


Uma velha música,  um velho poema daquele velho poeta, um velho novo sentimento. Você pensa no porvir.
Um  não saber.

Eu pensei em escrever umas coisas pra você, mas, nesse dia, decidi só escrever.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

is really nothing more

..is really nothing but dream that keeps waking me for all my trying.
We still end up dying, how can it be?




'Cause I'm just about to set fire to everything I see...

sábado, 22 de outubro de 2011

Das profilaxias

Será que existe tratamento para  mitocondría? Dos males, o maior. Isso.
Essa invenção que enfeitei de você.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

isso não são horas...

- Será que o amor se sente em casa?
- Vai se sentar no chão!
- É a segunda vez que uso essa frase você responde completando com isso.
 e a terceira que você não diz "será que vai deixar cair a brasa no tapete, coração?"
- Talvez seja porque não me acostumo com a ideia do  amor assim, no chão. Não devia ser assim, uma coisa assim sem lugar. 
- Não devia, mas é assim que é.
- Eu sei, mas não devia.
- Isso tudo é ridículo.
- É sim. E também não devia ser.
- Não, não devia.
- Sai desse chão..
- e vou ficar onde?´
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O amor já vai embora. Ou perde a condução? Será que não repara a desarrumação?



sábado, 15 de outubro de 2011

Last Request



Sure i can accept that we're going nowhere but one last time let's go there...
I've found that i'm bound to wander down that long way road, ohhh (...)
But i'm no wiser than the fool that i was before.


Tell me how can, how can this be wrong?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um escrito sobre a falta

Saudade de quando fazia sentido. De quando tudo isso fazia sentido..
Vazio - esse meio de transporte dos que têm coração cheio...A ausência é um estar aí. A ausência está exatamente aí.
 Não vê?

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

administrando insônia e insanidade

- vou te mandar umas telas do curso de gestão estratégica.
assim você para de ler essas coisas.
 
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taí, será que existe alguma pra isso tudo e eu não vi?

domingo, 18 de setembro de 2011

Um monumento à neosadina

"eu só tenho becos e perguntas, minha alma e minha culpa dormem juntas". 



Quando todos os deuses poetas, filósofos, bardos e prosadores sabem. Eles simplesmente sabem. E eu, cansada de não mais saber.

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Tenho uma grande constipação,

E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.


Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo
.

Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.


(Álvaro de Campos, Poemas)
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é de se entregar a sorte? é de se entregar à sorte?!


Em ver que o vai e vem pode ser eterno...acho que não vai dar...

porque meus fantasmas sempre foram diferentes. (no silêncio do vazio, arrastando maravilhas...)

Sem fatos de uma autobiografia



Alabastro


Esquecido em um canto. Um pouco sujo. Talhado há muito. 
Já esteve aos pés de Alexandria. Lacrou salas de orações.
Serviu água ao chefe egípcio, caiu-lhe das mãos.


Pobre alabastro. Pomposo em teu cochilo escuro.
Dormes o sono dos ermos à meia-luz de uma história boba.
Transido de pedra fria, de perfumes venturosos e velhos.

Tenho-te aos olhos de minha mente, doce alabastro.
Sonho com o canto em que habitas, inerme e sujo.
Um canto vago em minha alma de alabastro quebrado.


(J. Campelo).
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Suspirou profundamente e arrojou-se - havia uma paixão em seus movimentos que justifica a palavra - ao chão, aos pés do carvalho. Sob toda essa transitoriedade do verão, gostava de sentir debaixo do seu corpo o espinhaço da terra - pois assim se lhe afigurava a dura raiz do carvalho; ou, por sucessão de imagens, o lombo de um grande cavalo que ia cavalgando; ou a coberta de um navio agitado - qualquer coisa, na verdade, contanto que fosse firme, pois sentia necessidade de alguma coisa a que pudesse amarrar seu incerto coração, o coração que dava arrancos no seu peito; o coração que parecia cheio de perfumadas e amorosas brisas, todas as tardes àquela hora, quando saía a passeio. Amarrou-o ao carvalho e, ao descansar ali, o tumulto que sentia, dentro e em redor de si, gradualmente serenou...

Virgínia Woolf. in Orlando

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porque eu nunca te disse que a parte que mais me comoveu no teu poema foi o "para Lilianny", alinhado à esquerda logo abaixo do título, e do cuidado ao escrever os enes do original do meu nome dentre essas várias versões de nomes que você me deu...
pelas verdades fantasiosas dos teus versos e por todas as coisas que não se pode por em verso, sim, tenho razão em sentir saudades.  

domingo, 4 de setembro de 2011

When the pieces don't fit here anymore


Encerrados no quarto de duplos, perdidos  num labirinto de espelhos.





Well i'll hide all the bruises, I'll hide all the damage thats done. But I show how Im feeling until all the feeling has gone.
Everybody's talking in words I don't understand, and You've got to be the only one who knows just who I am. That's why I've been missing you lately. Cause you make it real for me... but I guess there's so much more, I have to learn....


Oh, don't missunderstand how I feel. Cause I've tried, yes I've tried.
But still I don't know why, no I don't know why. There's so much craziness surrounding me. There's so much going on, It gets hard to breathe. 
 Just leave now, it' the better thing to do...





sábado, 3 de setembro de 2011

O rapto das Sabinas. (sobre amor e outros demônios)



"Eu a havia conhecido 34 anos antes em Viena, comendo salsichas com batatas cozidas e bebendo cerveja de barril numa taberna de estudantes latinos. Eu havia chegado de Roma naquela manhã, e ainda recordo minha impressão imediata por seu imenso peito de soprano, suas lânguidas caudas de raposa na gola do casaco e aquele anel egípcio em forma de serpente. Achei que era a única austríaca ao longo daquela mesona de madeira, pelo castelhano primário que falava sem respirar com sotaque de bazar de quinquilharia. Mas não, havia nascido na Colômbia e tinha ido para a Áustria entre as duas guerras, quase menina, estudar música e canto. Naquele momento andava pelos trinta anos mal vividos, pois nunca deve ter sido bela e havia começado a envelhecer antes do tempo. Em compensação, era um ser humano encantador. E também um dos mais temíveis.

Viena ainda era uma antiga cidade imperial, cuja posição geográfica entre os dois mundos irreconciliáveis deixados pela Segunda Guerra Mundial havia terminado de convertê-la num paraíso do mercado negro e da espionagem mundial. Eu não teria conseguido imaginar um ambiente mais adequado para aquela compatriota fugitiva que continuava comendo na taberna de estudantes da esquina por pura fidelidade às suas origens, pois tinha recursos de sobra para comprá-la à vista, com clientela e tudo. Nunca disse o seu verdadeiro nome, pois sempre a conhecemos com o trava-língua germânico que os estudantes latinos de Viena inventaram para ela: Frau Frida. Eu tinha acabado de ser apresentado a ela quando cometi a impertinência feliz de perguntar como havia feito para implantar-se de tal modo naquele mundo tão distante e diferente de seus penhascos de ventos do Quindío, e ela me respondeu de chofre:

Eu me alugo para sonhar.

Na realidade, era seu único ofício.Havia sido a terceira dos onze filhos de um próspero comerciante da antiga Caldas, e desde que aprendeu a falar instalou na casa o bom costume de contar os sonhos em jejum, que é a hora em que se conservam mais puras suas virtudes premonitórias. Aos sete anos sonhou que um de seus irmãos era arrastado por uma correnteza. A mãe, por pura superstição religiosa, proibiu o menino de fazer aquilo que ele mais gostava, tomar banho no riacho. Mas Frau Frida já tinha um sistema próprio de vaticínios.

— O que esse sonho significa — disse — não é que ele vai se afogar, mas que não deve comer doces.

A interpretação parecia uma infâmia, quando era relacionada a um menino de cinco anos que não podia viver sem suas guloseimas dominicais. A mãe, já convencida das virtudes adivinhatórias da filha, fez a advertência ser respeitada com mão de ferro. Mas ao seu primeiro descuido o menino engasgou com uma bolinha de caramelo que comia escondido, e não foi possível salvá-lo.
Frau Frida não havia pensado que aquela faculdade pudesse ser um ofício, até que a vida agarrou-a pelo pescoço nos cruéis invernos de Viena. Então, bateu para pedir emprego na primeira casa onde achou que viveria com prazer, e  quando lhe perguntaram o que sabia fazer, ela disse apenas a verdade: "Sonho".
(...)"
(Gabriel García Marquez)

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 De Penélope a Helena. De Antígona a Medeia. Capitu. Sempre Capitu. A dos 14 anos. Pesadelo de todos os Bentinhos, Aquiles, Menelais, Jasões e Creontes. Cansada de todas as esperas. Quero Heitor. Páris. Os ardis de Odisseu. Mas, enquanto Ítaca não é encontrada, não darei uma de musa de Camões afogada. Prefiro a do meu  Gabo. (ou  Ariel do verdadeiro Bardo).

Não mais visões de espelhos. Mirar novos alvos, e olhares inteiros. Porque só a poesia é clarividente.


"no final das contas, somos todos sobreviventes de nós mesmos
lá nas prisões do infinito, ousar ser eterno: amor como atalho e labirinto
mas se você não está morto, sonhará porto por perto. anoiteça o que anoitecer, coração aberto"




sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Arrastando maravilhas (porque eu era labirinto)


"Take your time, make it slow
Andante, Andante
Just let the feeling grow
(I am your music and I am your song)"


C,
este é o meu texto mais difícil que você [me] traduziu. realmente, tenho perdido o fôlego, mas mais com essa vida do teu texto que com a do texto eu. sobre a ordem, também não sei, pensei em reordená-los da primeira vez, mas deixei assim, na ordem dos  ocasos. tudo calculado, uma vez que o caos é deus caprichando. e não somos mesmo isso? feitos de caos e de labirintos (sim, me lembrou muito o poema do sá carneiro "perdi-me dentro de mim"). hoje, sinto-me exatamente assim. mais do que sentia quando li da primeira vez. serei eu meramente esse personagem efêmero da tua trama? assim mesmo, nos labirintos do mundo de sofia  com minha caixinha de pandora? virei joguete do teu destino? ou do destino meu? malditos deuses, não pensei que usaria eles contra mim. injusto!
gostei do teu texto livre, traduzindo essa minha falta de coesão. você sempre comentou da minha singular pontuação, e nós sempre nos despimos das regras dela,não é mesmo? assim teremos sempre o benefício da dúvida, essa maldição que sempre nos assombra e encanta. "a parte boa de não compreender é que posso encaixar a vírgula e o ponto onde eu quiser", lembra disso? escolhi a revisão pensando nessas incoerências da  (nossa) vida.
deixemos assim,  ou melhor, fiquemos assim. a pausa e o final pra não deixar faltar trabalho pros revisores do nosso destino.  interpretações ao largo. fiquemos apenas nós. e todos os acasos.

"Andante, Andante!Go slowly with me now." 



(por que você sempre acaba por me lembrar essas músicas paternas da minha infância? seu velho - sim, porque pior que ter um pai que gosta de Abba é ser filha e acabar por gostar também, mas não conte a ninguém, eu nego.)


É isso. Um beijo, e obrigada."by  tread lightly on my ground". e por tudo.

L.
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p.s.: uma definição simples: ausência de pontuação. situação ( in-re?)descoberta, como a definição em estado de dicionário que te fiz pra me vingar de ter me chamado de coisa, pior,"essa coisa que é você", no depoimento que me fez dizendo que não sabia depor sobre mim, deixou só promessa, como sempre. é isso. estou sempre em estado de coisa mesmo. talvez prefira assim. no lost. just undiscovered. um trocinho, como agora dizem, enfim. paciência... prefiro assim.


And when we're alone, we're all the same as each other



Das traduções vividas III


L,
Eis o Andantino.
Já não sei se ele é continuação do Legato ou sei lá o quê.
Nem sempre ou quase nunca a ordem de feitura é a ordem de edição.
 Depois a gente pode ver como ordena. Antes vêm outros aí.
C.

"porque eu era labirinto" (Sá Carneiro)
Andantino


Misteriosamente vaga e entorpecida a Dama do Sono afaga a cabeça dela e o pior é que ela não quer dormir ela não quer nada quer simplesmente sonhar acordada e olhar e não ter que escolher entre a baliza esquerda de granito e diamantes rústicos e a baliza direita de mármore e prismas encravados porque cada uma destas balizas tem as suas belezas eternas e inlapidáveis a um mesmo momento em que percebe o redor tão mais bonito sem a desnecessidade incomensurável de se escolher qualquer coisa que seja ainda que momentaneamente entrebatida nos reflexos entrebalizas criados por uma luz vermelhocorrompida ela tenta esboçar qualquer coisa que digam que é sentimento mas solta uma espécie de inarticulação e as balizas respondem com o eco que é próprio dos lugares aonde ninguém vai


finalmente cansada de contemplar cores que nem dela são mais olha as balizas e baixa a cabeça pesada porque sabe que qualquer uma pra qual ela estrada vire vai desaguar na amplitude de uma longínqua paisagem essencialmente inominável o próprio nome ”paisagem” não faz jus ela pensa parece triste essa constatação mas não é somente coriza no nariz e um pouco de autocomiseração ela calça botas de chuva e casaco grosso porque o tempo é inclemente e a jornada é longa e fascinante em si.



Ela sabe sorriso de estrelas e volteios no ar. Mas aí ela já virou viajante.




segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Faxineira das canções

para Bê. Com vibrações  de som e fúria.  Porque sorte é para frangos.
 (e pros antropoliquetes parnasianos trotskistas, 
partido do qual você nunca admitirá fazer parte.. )



Sobre nuvens de fronhas e má educação.


O despertador acorda. Atrasada, como sempre. Mal dá tempo de coçar os olhos, pega toalha, banho e o primeiro vestido que vê. Sem passar. Vai assim mesmo. Desce as escadas, mal dá bom dia. Mal educada, não vê que tem gente? Não viu. "tô atrasada, mãe". "Bom dia", ao notar a diarista. Desde quando temos uma? Pensa  pra si. "Eu te falei dela". Ah sim, tinha, inclusive, que ajudar com a tal contratação. Pega um café, come de pé.
"Senta pra comer! Depois reclama do estômago. Tá sempre com pressa!". Tô atrasada! "Acordasse mais cedo, então". é, acordasse, mas, pra variar, não acordou.  Pensando já no caos do dia e no resultado de tanta pressa e tanto atraso, nota um som ao fundo. "lá vem a mãe com as breguices dela", comenta.  Mas a dona era outra. "é que eu gosto dele, espero que  não se importe". Percebe a música que toca. "não, não me importo.absolutamente.". Subitamente, pensa na coincidência das coisas, e na pieguice daquela letra, e deixa escapar um sorriso, que insiste em permanecer enquanto a música toca, e  cantarola baixinho, ao passo que as duas da cozinha se entreolham, sem entender aquela mudança brusca e repentina.
"Desde quando você gosta de Fábio Jr.???, achei que fosse brega..."

Sim, é brega. Sim, não gosto.
Só hoje.
A música termina, ela ri e  sai. Sem adeus.

"Liga não, moça, minha filha é doida  assim mesmo, viu? nem bom dia!até parece que não fui eu que eduquei... "

É. Até parece.


Faxineira das canções - Elizeth Cardoso.
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B: : cRica no pRay
K: ...tô bloqueada no tube! pra variar, a culpa é sua. clicar  no que?
B: tenta. outro link: 
K: Seu idiota! pra que me mandou isso?! agora vou ficar com a maldita na cabeça de novo. é a preferida da tia.
B: ainda nem sabe a coreografia. ;)
K: besta. ¬¬



sim,  ainda me deve a coreografia. e é "óbvio e ululante" que vou cobrar, com ou sem efeito de álcool. e também não precisa lembrar de tudo, só não deixo esquecer das promessas, principalmente das de bar, as mais verdadeiras. :)




p.s.: tá. eu admito. eu gosto do Fábio, mas ninguém pode saber, se contar, eu nego. Até a morte.

Trocinho ¬¬
=)

domingo, 21 de agosto de 2011

Simplesmente

..


"Saudade  a gente tem é dos pedaços de nó(s) que ficam pelo caminho".

Por ressuscitar essa canção pra mim, e me fazer ouvir de novo todas as músicas do  Mariano,  pela vontade de querer sempre retribuir de alguma forma a alegria e a paz que te trago pelo simples fato de existir em um pedaço de dia do seu ano  de tarefas sem fim, por me cantar sempre os melhores versos sem precisar saber nenhuma poesia. Por me encabular de elogios.  Por  me ver de  forma única e bela, por me fazer gostar um pouco  mais de mim, do Rio de Janeiro, da minha faculdade, da brasilidade que há   em nós, por me fazer enxergar a beleza que há nas coisas simples e mesmo nas pequenas tragédias cotidianas só pelo amor e  fé que tem na vida, que não te abala nunca.

Por isso, por fazer brotar sorrisos fáceis em mim sempre nos dias de lágrimas maiores, por ser meu lado b, meu lado bom, brasileiro, barulhento e divertido e livre e leve. Por querer simplesmente esperar a  eternidade de uma tarde ou de uma vida inteira pra concretização de um sonho que talvez não se realize nunca,mas de se contentar só por ter sonhado ou pelo gosto da esperança que ele te causa. Por não se importar de gastar com interurbanos só pra ouvir um pouquinho minha voz e me fazer rir com suas loucas histórias. Por também adorar ouvir minhas doidas histórias,  por achar certo e querer se ajustar ao meu torto e gauche modo de vida. Por achar minha "complexidade" perfeita e simples. Por dizer querer aprender até o que não sabe só pra poder me ensinar quando eu precisar. Por me apresentar e me fazer querer viver um pouco do teu  way of life e do nosso poeta preferido. 

Por todos os mais e além do mais, sem precisar ter me dado tantos argumentos pra me convencer de ter uma companhia tão já facilmente aceita, por me fazer  desejar ser essa pessoa  que se  me veem os teus olhos infantis e bonitos. Pela troca de momentos, músicas,  filmes.. Pela dança que nunca tivemos. Pela saudade maior que une os  quilômetros de distância que nos separa. Por conseguir me fazer querer reouvir e reviver coisas que já pensava ter jogado no lixo da memória (que só  você consegue  com um simples, convencido e atrevido pedido de "ah,vai, eu  mereço"). Por  me ensinar a lição do amor (nada) simples do Jair. 

Por isso e tudo o mais que me trouxe na vida e nesse dia tão triste em especial, simplesmente é impossível não lembrar  de você sempre com a maior ternura que possa existir em mim. Porque você foi meu melhor carnaval, o melhor enredo, a melhor trilha sonora daquele  ano. Por tudo isso, elementar, meu caro, amar  você também é fácil e simples. Assim como  fácil e simples também é explicar essa nossa imensa e eterna saudade. 









sábado, 20 de agosto de 2011

Que dance a linda flor girando por aí

às 5:50 a.m,
 sonhando com  amor sem dor, amor de flor 
querendo a flor que é, no sonho a flor que vem
Ser duplamente flor, encanta colore e faz bem



(...)
Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.


O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse. 



Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.



Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! 

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu
. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.

É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas
é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.



(Drummond)
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Sim, Drummond, em meio à toda náusea pintada de cinza, garanto que uma flor nasceu. Suas pétalas não se abrem, mas se sabem fotografar, seu nome não está nos livros, mas está entre todos eles, sua cor ninguém percebe (a vida é burra, a tal flor só abre para raros), mas tem, tem cor, eu sei. Seu tempo já chegou. Nasceu às dez pras seis, é linda. Tem a cor.  lilás.






e, sim: pelo sangue nordestino, pelas hienas, pela companhia de cela no séc XVIII ou XIX ou seja lá qual for, no pior  e no melhor dos dois.  pelo pôr do sol no arpoador,  ... por isso e todos os mais e além dos mais, obrigada eu.


e hoje eu vou ficar feliz, mas é só por e pra você. 











sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Autobiografia sem fatos

Transição romântico-realista-moderna

E do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.

caçadora de magia, seguidora convicta da escola DuBoísta-Bovaryana, dependendo sempre da boa vontade de estranhos. caindo sempre na ilusão de que se pode não ser só. tendo a melancolia como hábito e a paz de espírito por desespero. recorte-colagem de discursos alheios. bisbilhotecária-procrastinadora-defenestradora. 
musa ideal de Woody Allen e Almodóvar. clichê barato do coração dos corações de Caio. ninfa ilusionista das odisseias de Homero. pluricelular. antissocialista pluripopular. infância e maturidade por profissão ou pura vontade. crítica voraz das relações de si consigo  mesma. pedra de tropeço do sapato de Drummond. a letra A do seu nome, N do nosso elo.  frase melancólica do corvo de Poe. lira de Davi. vitrine da Garota. verde-musgo de Eça. reflexões paradoxais de Fernando. exceção que faltou à regra. vírgula instante de texto burocrático. rima que não encaixa de poeta parnasiano. 
V de Souza. trigésimo segundo capricho de Goya.
Estante da biblioteca de Borges. sétima face do Gauche. ressaca de Capitu. nota de rodapé de texto não escrito. impúrpura rosa do Cairo.  musa afogada de Camões. dor de cabeça de Luísa. monumento à aspirina de Cabral. azul de Pena Filho. londres de Virgínia. calcanhar de Aquiles. saudade do fado.
aspirante a qualquer coisa.
coisa alguma

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aí vem um Eça e um Fernando e dizem: espere, pare,olhe, respire, retorne. tá tudo errado. vai começar tudo de novo. Sim, de novo.

Manueis malditos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Entre o Hades e o Olimpo







Iam os dois pela noite afora, falando de amenidades, ironizando a brevidade tediosa da vida. E conversavam sobre mortais e deuses, suspirando embriagados pelo tal néctar de Dioniso.

- Mas, por que Hera? Por que não a beleza estonteante de uma ninfa, ou a avassaladora da doce Helena?
- Ora, porquê! Não sabe que os gregos fizeram os deuses à sua imagem e semelhança?
- É o que dizem...
- Pois bem, não precisaria mudar muito, meus defeitos somariam-se aos poderes avassaladores da deusa. Os ardis! E os ardis?! Tudo se justificava!
- Isso lá é verdade. De fato, caprichosa e ciumenta você já é. E é o que tem de mais engraçado, sempre me divirto muito quando joga fora toda o seu recato e me aparece com seus ataques de cólera. Tão esquentada...

Ela ria, ruborizada, realmente perdia as estribeiras.

- Então, só me falta a divindade. E os poderes, é claro.
- Mas Hera?! não é a  dos amores normais? Você costuma ser tão desejosa de intensidade,sempre buscando por aí uma paixão arrebatadora... é, no mínimo, curioso...
- Entre outras coisas, os amores, sim. Mas disse bem: buscando, nunca encontrando. E a vida não é assim? Um monumento à mesmice? Sempre desabando os castelos a golpes de tédios e racionalismos. É a vida. Eu, sendo Ela, ao menos poderia ser da minha uma rainha.
- Uma deusa!
- Sim, uma deusa!

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Para C., porque confessou que também gosta dos defeitos da deusa, compartilhando do mesmo espírito..
apolínio ou dionisíaco? whatever,  porque você gosta, ponto.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Séria constatação na vida... II

.


"O tempo ainda é de fezes, maus poemas, alucinações e espera".


|C. Drummond - A flor e a náusea;  em cada gota de verso|.







à parte isso  -  a despeito de tudo isso -  garanto que uma flor nasceu.

domingo, 14 de agosto de 2011

The one last time


... try to understand that I'm
trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same
(and I don't feel right)
_________________________


Essa música tem insistido em traduzir essas coisas.


sábado, 13 de agosto de 2011

das palavras e das coisas

- ... e eu não sei explicar o que quis dizer com isso, mas também não importa, é o que causa.
-  é uma palavra que define bem mesmo. (aliás, eu adoro essa música, adoro cantores nordestinos, e fica linda na voz dela....  e, é lógico que você não conhece).

- enfim, é uma palavra que define bem.





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Frisson - Composição: Tunay / Sérgio Natureza (mas na voz da Elba, tocada pelo Geraldo,com todas as  lembranças de família e infância)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Till it happens to you



 two for sorrow, one for joy, sometimes you will lose, sometimes you lose.








Porque essa música não para de tocar, thought you should know by now.


Suburbano coração



Hoje eu acordei com medo mas não chorei, nem reclamei abrigo. 
Do escuro, eu via o infinito sem presente, passado ou futuro(...)
já não era medo, era uma coisa sua que ficou em mim e que não tem fim. 
De repente a gente sente que perdeu ou está perdendo alguma coisa, 
morna e ingênua que vai ficando no caminho, que é escuro e frio, 
mas também bonito, porque é iluminado 
pela beleza do que aconteceu há minutos atrás.



Porque hoje, voltando pra casa por um caminho estranho e escuro, pensando e reescrevendo mais um capítulo do  meu livro cansado de nunca se escrever, percebi ao longe essa música, o poema que tanto traduziu em cada pedaço de  letra os  meus dias, e que remonta tanto aos tempos de adulta inocência pelos quais já precisei passar. Comecei a pensar em como certas músicas continuam fazendo  todo o sentido pra mim, mesmo com todos os acontecidos dos idos anos, muitas só servem pra  intensificar ainda mais esse tipo de certeza. Fui em seu rastro sem ligar pro horário avançado ou pro perigo de ser uma menina sozinha e cansada, com  um pé sangrando, voltando de um dia pior que de um cão, com seis livros pendurados numa mochila que levanta o vestido e que só se percebe quando escuta a primeira gracinha nas ruas. E fui atrás e não me importei com a solidão, nem com os perigos imaginários ou reais das ruas da meia-noite, nem com o celular fora da área de cobertura. Achei o lugar perto da estrada, e não me importei também em sentar no meio-fio e deixar passar todas as conduções que me levariam pra casa enquanto a música não terminasse e a dor não passasse também. Nem no ridículo ou nonsense de tudo isso, nem no que pensariam de uma garota parada numa calçada, com bolsa de gente grande e roupa de segunda-feira chorando no chão sujo com uma seta no calcanhar.
A música passou, a dor secou, pelo menos por ora, começou a tocar Take toke, a melhor música da melhor novela que eu já assisti. Um carro parou, um homem chamou, uma porta abriu, eu entrei e fui embora. 

Essas coisas só posso fazer aqui.



Suburbano Coração - Chico Buarque. Sim, mais ainda. http://letras.terra.com.br/chico-buarque/86055/

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Do princípio das certezas - breve olhar antropológico sobre a dúvida

para  B


livro do desassossego- bernardo soares

Ainda vou entender esse cara, como nunca ninguém entendeu.
Só pra isso.

...





Sobre uma pergunta feita por um sociólogo de bar.

domingo, 7 de agosto de 2011

Lamentações de um texto inescrito

"Que grandes aspirações! Que magnas plenitudes! E algumas verdadeiras…
Mas sobre todas elasPuseram-me um tampa. (...) Uma tampa".
A.C.




Eu bolei uma frase genial a ser continuada por palavras e ideias incríveis e grandiosas dignas  de um diálogo buarque-borgeano.

Mas a inútil aqui não me escreveu.









 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Uma parte que não tinha


Todo ser seria. Todo rio riria
Toda flor folia abajour pra escuridão
Toda brincadeira começa com alegria...


O Circo 


Fez primeiro um circo para brincar a sua dor. E brincou como se não doesse.Fez um baile inteiro, como se fosse orquestra. E cantou, dentro do imenso salão de sua vida, músicas que aprendera na infância. Fez depois um parque para brincar seu desencanto. E brincou como se desencantado não fosse. E se fez mais amplo do que a possibilidade pode possibilitar. E cresceu tanto que o mundo desapareceu. Depois fez um rio para brincar os seus olhos. E brincou como se as paisagens ainda existissem. (...) Percorreu incríveis distâncias por nada. Mas insistiu com seu sorriso e na sua verdade. As cores frágeis dos objetos não importavam. Importava sim, esse instante em que o espírito se solta e procura o voo da pomba invisível, assim como ele se fez e se desenhou no caderno branco do seu próprio destino. Depois, calou seus acenos, e do frio fez calor, e do inverno inventou as chuvas para lavar as pessoas. Passou a vida inventando uma maneira para viver. E, inventando uma maneira para viver, não achou seu motivo. Procurou então dentro da terra. E depois dentro dos templos. E depois nos grandes desertos. E depois nos oceanos. Fez um dia um barco de papel e navegou com ele a sua incerteza. No fim do rio, já não restava nada, mas achou que fez bem em tentar. (...) Fez primeiro um circo para brincar a sua dor. Todo o resto foi decorrência, sem nenhuma explicação.
|O Circo – Alves de Faria|
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Que a certeza não escorregue. 


Reciclar a palavra, o telhado e o porão... Reinventar tantas outras notas musicais...
                     Escrever o pretexto, o prefácio e o refrão... Ser essência... muito mais..A porta aberta, o porto acaso, o caos, o cais...



E por tanta exposiçao a disposiçao cansou.



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Das traduções vividas II


Legato


Abre os olhos e reconhece a rua. As casas à esquerda tão iguais e tão diferentes. Ela diz a si mesma “vai passar, isso vai passar”, e as gotas cada vez mais estáticas do céu. Sacode os pés encharcados e percebe a infinidade que o gelado da água a leva a abandonar. Não há nem sequer um “se”. Tudo: uma réstia de samambaia pendurada de uma janela erma, o sorriso minúsculo das poças de água sob os varais comedidos, procissões de passos e suspiros sob o sono dos toldos. Cheiros e gostos irreconhecíveis e insondáveis pela bruma. Uma louça ao chão. Bater de talheres. Som rouco de matraca. Tudo calculado (uma vez que o caos é Deus caprichando).

            Ela, parada, no meio. Tenta não reconhecer a rua. E os enormes canteiros de obras que escondem um pensamento de não vir. E um avião que cruza o céu silente e penosamente. E uma família que bem pode ser a sua, acenando de várias janelas. E os pombos, encharcados, comendo migalhas adocicadas de água nuvosa.

            Aí ela finalmente se esquece da rua, e vira estrada.
                                                                                                                    
 C. Bastos.