quarta-feira, 30 de março de 2011

Séria constatação da vida¹

"Não fugimos, por mais que queiramos, à fraternidade universal. Amamo-nos todos uns aos outros, e a mentira é o beijo que trocamos".


[262]
"Cheguei hoje, de repente, a uma sensação absurda e justa. Reparei, num relâmpago íntimo, que não sou ninguém. Ninguém, absolutamente ninguém".
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E ele, mais uma vez, acompanhando minhas dores. 


¹ Ao modelo Garota do Instante

domingo, 27 de março de 2011

sábado, 26 de março de 2011

Tudo sobre minha mãe.

Acorda com os olhos inchados.
- Que cara é essa? Passou a noite chorando? Que horas você chegou?
- Tarde.
- Brigou? O que aconteceu? Eu não sei porque vocês choram quando brigam. Eu nunca chorei quando brigava com teu pai. Ficar brigando por besteira e chorar. Ninguém merece isso. Ninguém. Vocês não aprendem.
- Não é isso, mãe..
- Eu não entendo vocês duas. Vocês tiveram oportunidade de serem livres, independentes, divertidas, criei vocês pra isso. Mas não, ficam aí chorando quando brigam.  Vocês não aprenderam nada comigo. Por que você não ficou? Por que você não foi embora sozinha? Melhor que brigar. Não tinha passado por isso e não tinha chorado.
- Não foi isso, mãe...
- Não entendo vocês duas. Ficam passando por isso. Não gostou? Vai embora. Ficar sendo submissa, tentar agradar. Ninguém valoriza isso, ninguém merece isso. Nem amigo, nem homem, nem família. Entendeu? Vocês não entendem. Vocês estudam, trabalham, mas não aprendem nada. Vocês não aprenderam nada comigo. Não entendo vocês duas.
- Não é isso, mãe.  Só tô triste, me deixa....
- Eu não entendo. Vai ser feliz! Podendo ser feliz fica aí perdendo tempo sendo triste. Não entendo vocês duas, não aprenderam nada comigo.
O telefone toca.
- Já tô indo. Vou trabalhar. Melhora essa cara. E vai fazer tuas coisas.
- Tchau. Mãe...

terça-feira, 22 de março de 2011

a uma anônima

Navegando por mares alheios, encontrei certa anônima que, comentando certo blog,  citou certo texto  que amo muito e que tem tudo a ver conosco (comigo e com a tal anônima). Segue abaixo o tal texto, segue abaixo o narrador de nossas vidas:

            LISBOA REVISITADA



NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.  Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz!  Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

                              [Álvaro de Campos, 1923]



terça-feira, 1 de março de 2011

Breve diálogo sobre a sanidade

K: Entende agora o porquê da minha loucura?
M: Não, não entendo. A loucura é tua, não joga pra mim.







[Uma breve homenagem e uma declaração de saudade]