quinta-feira, 30 de junho de 2011

"E há tempo para tudo debaixo do sol

...eu disse ao meu coração"

Porque há o direito ao silêncio e eu já disse isso sempre em conselhos aos outros e a mim mesma. Silêncio de deus, silêncio de amigo, silêncio de família, de sorrisos e de choros, de decisões e de crises. Silêncio pra ouvir o canto dos passarinhos e pra usar fones de ouvido. Silêncio pra não escutar o  mundo e pra não escutar a si mesmo. Silêncio pra se anular e silêncio pra existir. Silêncio pra não matar ou  silêncio pra morrer, em paz ou em guerra. Silêncio pra explodir. Silêncio pra implodir. Silêncio pra ter silêncio. Silêncio pra não fazer barulho pro vizinho de cama. Silêncio pra escutar a respiração do amante. Silêncio pra ouvir a própria respiração ofegante e se amar por dentro ou pra descobrir enfim outros amores. Silêncio pra fugir e silêncio pra encarar de frente e se aceitar e também pra aceitar. Silêncio pra ler. Silêncio pra cegar. Silêncio pra esquecer. Silêncio pra lembrar. Silêncio pra viver. Silêncio pra deixar. Silêncio pra nascer. Silêncio pra crescer. Silêncio pra seguir. Silêncio pra retroceder. Silêncio pra mudar. Silêncio pra sarar. Silêncio pra amar e desamar. Silêncio pra lutar e pra desistir. É justo que seja assim.

Mas há também o direito ao grito. Então eu grito, eu berro, e toco a campainha e saio correndo. Porque eu quero e tenho vontade.

Take time to realize

"imagine que no futuro as pessoas vão ler sobre nós
 e vão se admirar do jeito que a gente arrumou
pra não deixar de se amar"


De todas as vezes que fomos embora de nós sempre houve duas músicas, dentre várias, que me faziam querer retroceder. A primeira chama-se "Eu te amo", do Chico. O título é óbvio, o cantor, mais ainda. Depois dessa, quando voltávamos para casa e passávamos por crises, eu pensava nele também, em "Futuros Amantes" e no Renato com seu mundo que anda tão complicado ou aquela pergunta recorrente de "Vamos fazer um filme" ou, ainda, com seu descobrimento do Brasil: "estou pensando em casamento mas não quero me casar... sou um rapaz direito, fui escolhido pela menina mais bonita"...


Bem, eu não sou a menina mais bonita, mas sempre imaginei alguém escrevendo essa música pra mim desde que eu a ouvi pela primeira vez quando tinha uns dez anos. Não sou "a mais bonita" (pra lembrar outra do Chico), mas tentei ser a melhor menina, melhor amiga, melhor qualquer coisa que você poderia e merecia ter, nem que fosse pra me redimir daqueles três anos dos quais você tanto reclama durante o colegial. Essa foi uma das minhas inúmeras e (in)falíveis intenções. Elaboro sempre planos infalíveis, igualmente impossíveis.
Eu te faria ouvir todas essas músicas, o Renato é fácil, você adora, mas como você não gosta do Chico e seja essa a música que mais nos define, só vou te importunar mais um pouco escrevendo a letra, na prosa flui mais. Melhor cantar, talvez um dia eu cante, coloca lá no rádio e ouve, lê a letra se não quiser, é importante que  leia.

...
Leu? Bem, eu não tenho resposta pra nenhuma dessas perguntas, não quero mais pensar no why did we mess with forever, no que fiz ou que poderia fazer pra que fôssemos mais felizes, me respondo sempre que a gente foi o que dava pra ser, horas se esforçando muito, horas quase nada. Acho que o erro foi não saber a hora certa de cada coisa, foi inevitável, estamos cansados, mas quero acreditar que fizemos o melhor, não vamos falar em culpas. Estamos cansados, é só. Tudo bem, eu nunca gostei de disputar nada, sempre falei isso, nem faço questão de ganhar nada, nunca fui de ganhar muito mesmo. Eu só não quero mais olhar e ver que você tá insatisfeito, ou desapontado com a minha falta de tudo isso. Não quero me sentir errada, apesar de estampar na testa que eu sou assim porque gosto, porque se eu acerto e aí?Acaba? E depois? Eu gosto de trabalhos inúteis, refazer tudo, reler tudo, trabalhos sisíficos, tarefas hercúleas, mas não quero terminar, gosto de fazer só. Gosto sempre mais dos meus rascunhos, detesto a obra pronta, tá sempre tão mal feito. Sempre me identifiquei com a Penélope, mas cansei de esperar o inesperado. Estamos cansados, é só.

Eu só não quero que a gente acabe se odiando, seu medo era esse também e não é justo com tudo o que passamos. Eu sou muito difícil de lidar mesmo, você não tem culpa, então acho mais justo ser eu a fazer isso, já que a doida da relação sou eu, por isso disse que não estava desistindo de você, mas, sim, de mim e da minha mania de querer consertar o mundo. É um ato de covardia comigo mesma que requer muita coragem. Mais uma reflexão pra minha lista de paradoxos. Eu só estou cansada de dizer e de ouvir aquela frase tão banalizada, eu não gosto da banalizações de sentimentos importantes pra mim, embora diga "isso", ponto, isso não é um final, é continuativo, porque eu sempre fui de inventar a continuação das histórias. Mas isso nao importa. Droga, eu queria escrever pouco.
Bem,  eu só não quero fazer a gente sofrer mais com nossos erros e eu não sei fazer nada direito mesmo, aprendi que a coisa mais sábia é decretar falência antes de tentar qualquer coisa, o que vier depois é festa, mas você tem essa mania de discursos diretos e eu sou portuguesa e não sei fazer redação dissertativa. Eu gosto assim, você não tem culpa.

E eu não quero mais escrever, tá começando a ficar triste e era pra ser leve. Minha letra tá ficando feia. Só não fique triste comigo.  Um beijo, boa noite e boa sorte. Ouça a próxima música.

Manhattan Skyline




 Rascunho

"Rio de Janeiro, hoje é 23 do 3, como vão as coisas? de mês em mês eu me sento pra escrever pra você"...

Ao lado, como recado para si, um lápis.  Sempre quis usar essa música pra falar das coisas que eu não faço ou das infindas cartas que eu escrevo pra ninguém ler.  Ridículo.

Apaga, rabisca, rasga, olha o cinza, viaja até aquele céu.  arranha três canções, seca o objeto de cordas. - ondular adeuses. volta, senta,  escreve.

De novo.

sábado, 25 de junho de 2011

I wished that I could fly away...



 
 
 
 
 
 
My heart is drenched in wine

But you'll be on my mind

Forever
 I left you by the house of fun

I don't know why I didn't come



 
But I know in the end this will turn out wrong. See I've been known to fall in love, but sometimes love just is not enough.
And my heart will stray before too long. So please forgive me for when I sing this song.



sábado, 18 de junho de 2011

Notas de saudade a uma distante presença

L: A felicidade é   fascista, odeio isso"
C: você e  seu   humor de vanguardista obsoleta. Você não quer ser feliz?
L: Je suis chaotique. Eu só não gosto de   obrigações, Mussolini.
C:  Façamos  a revolução!
L: Detesto perder gente. Dizimar, então, me cansa.. 
Vamos tomar um café primeiro?



Do Sono

           
Separados pelo manto da tosse os dois estão lá. Os lençóis embalados no meio, enlaçados por um sem número de ânsias incompletas, soluções desgarradas, tensões de um dia inconcluído. Não era só a negação que os apartava: o desejo também separa, quando confessado num sussurro de quem some. Eles se deitam, mas é como se estivessem de pé. Uma respiração de fumante a distingue dele. Uma respiração de asmático o diferencia dela. Era como se a osmose de anos os tivesse largado somente com as seqüelas do desejo da unicidade.

Sem embargo, eles não tinham mais muito que trocar mesmo. Suas manias eram tão reciprocamente conhecidas que eles as expurgavam, despejando essas roupas velhas lixo afora, olhando com o desdém de um espelho quebrado. Ver pelos olhos do outro era um hábito orgânico e transparente. Acostumaram-se a isso como quem se acostuma com um filete de água infiltrada.

Acordam de manhã. Ela sempre alguns momentos antes dele. Ela o olha com o vigor do dia seguinte, vai pra cozinha. Ele, alguns momentos depois, torce os dedos sobre o peito, enquanto ela, na cozinha, já pergunta quando ele vai parar de coçar o mamilo esquerdo e começar a se arrumar pra sair. Dizem que a solidão acompanhada é melhor.

Ele olha pra todas as palavras benditas que descem pelo chuveiro, se arruma, coloca a gravata, o terno. Ela termina o café, toma seu banho diário de cosméticos, se arruma, coloca o uniforme. Sorriem. Separados pelo manto da tosse os dois estão lá. Ela abre a porta e sai. A maçaneta sempre trava quando fecha. Ele senta-se no sofá. Cabeça inclinada. A maçaneta sempre trava quando fecha. Dedo indicador nos lábios e um fragor de soluço nos cabelos. Ele nem saiu de casa, mas é como se já estivesse trabalhando. Aliás, o que nesta vida não é trabalho e casmurrice?

Abre a porta e sai.

(J. Campelo)

Porque toda leitura é autobiográfica e toda saudade é uma espécie de velhice.

domingo, 12 de junho de 2011

My maudlin carrer

Vou estabelecer um hiato aqui, já que se não pode estabelecer na vida.. De qualquer forma, não se fará notar a diferença.

This maudlin career has come to an end.

domingo, 5 de junho de 2011

Questões londrino-franco-portuguesas

hoje acordei meio Virgínia Woolf. Louca e suicida. retirem de mim qualquer paisagem aquífera, dispertem-me das visões de Orlando.
hoje sonhei que era Dinamene,  musa afogada camonianista - retirem de mim os poetas, o Tejo, Portugal, os Luíses de Camões - (não) deixem nascer o livro lusitano.

Deixem-me, enfim, ser Mathilde. 
 (mas retirem de mim os Soréis.)

Anticlímax

19/02/10
Um bonito dia acordou do lado de lá da janela. As nuvens pediram licença ao sol, nublando todo o céu, e pequenas gotas remanescentes da chuva da noite dançavam em poças de terraços vizinhos. Pássaros tímidos sussurravam que já era hora de levantar e viver o dia; e o silêncio da casa sugeria que hoje o dia era seu e que podia escolher. 
Entretanto, tudo que corpo e mente queriam fazer era voltar ao sonho e divagar sobre outra atmosfera.

Nova ortografia português-literária - Aula 2

Risca o chão de giz.

A face informe da forma informa a forma dismorfa da face. A forma disforme da forma formou-lhe a forma disforme da face.

Procura sentido naquilo tudo.

-  mas...você sempre mistura tudo! falávamos disso?! O que  Wilde tem a ver com a história?

     - Você precisa aprender a acentuar.

- mas isso são regras, e o Dorian?

       - Também são regras.

- de ortografia?!?

       - Acentue.

sábado, 4 de junho de 2011

Hiponímia - Aula 1

É simples como ler Ulisses todo de uma vez 
É simples como saber falar bom português.

Ex.¹: precisar|v. tr.


1. Ter precisão ou necessidade de.
2. Determinar, indicar, calcular de um modo preciso, com !exatidão.
3. Especializar, particularizar.
4. Não poder passar sem, não poder prescindir de.
v. intr.
5. Ter precisão de dinheiro e de tudo quanto é essencial à vida; ser pobre.
6. Carecer.


Ex.²: carecer | v. intr.
carecer (ê) - Conjugar 
v. intr.
Não ter o que é preciso.
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Elementar, meu caro amor, amar é simples. - interrogou-lhe.