Juntei os pedaços de vida que ficaram espalhados pela casa desde sua partida. Uni aos caquinhos de mim e fiz um belo arranjo. Não é tão belo quanto aquele que você, num momento insano e estúpido, atirou pela janela,mesmo sabendo que era o meu favorito, que eu cautelosamente decorei ao longo de nossa convivência. Não é tão bonito. Meio desajeitado,eu diria.
Pensei em ir até o jardim, resgatar os pedaços mais belos daquela pequena ruína para juntar ao meu singelo arranjo e tentar dar-lhe mais cor. Mas o que tinha de mais bonito era justamente o que estava mais estilhaçado, infelizmente, nada vai colar.
Chorei. Tive raiva. Desisti do projeto.
Pensei no que iria fazer com aquilo, não podia jogar fora, simplesmente. Então peguei o desajeitado arranjo e fui colando os pedacinhos sobre seu retrato. No entanto, os meus pedaços não foram suficientes para encobrir de todo sua face, ficaram menos que a metade. Você levou muita coisa.
Foi então que resolvi ir lá fora buscar outros pedaços, novas cores para restituir aqueles caquinhos e concluir meu novo projeto.
Quem sabe, aos poucos, peça a peça, eu consiga apagar seu rosto por completo daquela moldura? Quem sabe não faça arte com minha preciosa sucata?
Pode ser que não fique uma figura plana e bem definida como a de antes, mas pode dar um bonito mosaico.