terça-feira, 26 de julho de 2011

Das traduções vividas


eu apenas queria que você soubesse

Staccato


Um dia ela acordou e viu que não tinha mais nada em casa. Levantou-se e permaneceu sentada (a cama tinha-lhe sido roubada durante o sono). Olhou ao redor e estranhou as paredes, como se não fossem. E o sol que descia à janela parecia o mesmo, mas já não era mais o dela, era como algum raio que lhe havia sido roubado também durante a noite. Tocou com as solas dos pés no chão (roubaram-lhe as sandálias e as pontas sensíveis dos dedos) e mordeu a palma da mão. Cerrou os olhos pra ver se dormia de novo e acordava na casa de antes, com tudo intacto, o relógio de parede velho, a vizinha que reclama do gato fugido pelo corredor. As pálpebras tremiam umas contra as outras, brigavam entre si pela escuridão.

            As pessoas lá do térreo cada vez mais baixo. Sentiu o calor do suor provocado pelos raios de um sol recuperado. Tinha os olhos fechados, mais sentia os prédios se amontoando nas esquinas promíscuas daquela escuridão, eles gritavam mais alto enquanto as bolinhas luminosas pipocavam a sua frente. O gato miando na escada. Pobrezinho, deve estar com fome.

            Agora aquela era a casa sim. Mas aí já não era mais dela.


J. Campelo.



-------------

(to be continued...

Nenhum comentário: