domingo, 24 de julho de 2011

o impossível carinho



de quando fui chuva

ao anjo mais velho,  com seis  lembranças de amor e ternura.

Dear G,

tenho pensado muito em você, tenho lido teus textos. Preciso dizer que senti uma saudade, seu nome: tanta. Imensa. Saudade do que fomos. Saudade do que fui. Saudade do teu olhar de ternura, de me aconchegar no seu colo, ouvir teus conselhos e me sentir pequena. Sinto saudade desse direito que você me deu de me sentir e poder ser pequena. Daí quando achei que estava grande você se foi, porque precisava cuidar de outras crianças e pediu que eu retribuísse teus cuidados com o mundo. Eu bem que tentei. muito. Nem todo mundo gosta ou entende, queria que você soubesse. Mas acho que até consegui passar algo, não como você me ensinou. Ontem, por exemplo, como uma vingança particular e infantil de outro anjo (que me tenta e não me guarda) voltei a beber teus conselhos e vi que você estava tão certo, sempre esteve. E  me fez profecias. Queria que  soubesse que elas se cumpriram. Todas. Exatamente do jeito que disse que seriam, no que tem de bom e de ruim. devia te odiar por isso. não sei porque a saudade.
Sinto falta de você dizendo que eu faço tudo errado. Que entendo tudo errado e que nem sempre é divertido ser tão criança, apesar de você sempre ter gostado tanto delas. Sinto falta das tuas explicações, porque sabia que eu pressupunha conclusões e você tinha que desfazer todas as minhas precipitadas certezas, que nem eram tão incertas assim, admita. hoje, daria todas aquelas certezas por qualquer metade de esclarecimento teu.. mesmo se um daqueles que eu custava acreditar. sempre concordamos que mentiras sinceras também interessam. ando tão confusa. tantas verdades confusas pra contabilizar, tantas.
Li sua carta de aniversário dizendo que eu era única no mundo. E você já tinha ido embora. Pediu pra eu responder, não consegui. Não consegui te explicar a minha ternura, acho que só agora entendo o poema do Manuel. Hoje não consigo expressar a minha tristeza. E como gostamos dos brasileiros, eu apenas queria que você soubesse que a minha não ficou na estrada ou no tempo presa na poeira e que a tua criança brinca nessa roda, e não tá gostando dela, porque teme os cortes das novas feridas. Você me deu tantos conselhos. Pra vida inteira. Os mais simples eu não soube seguir, a simplicidade é tão difícil, como disse uma clara, só é conseguida com muito trabalho. e eu tenho estado tão cansada! Eu apenas queria que você soubesse que sinto sua falta e que reli teus conselhos. E que, se sou assim hoje, é por conta deles. sinta-se culpado. ou satisfeito. dias atrás ouvi teu nome num bar. um bêbado querendo abençoar, algo assim. lembrei disso esses dias. deve ter sido por isso a saudade. na hora passou quase despercebido, talvez seja essa a raiz das coincidências. (continuo vítima delas, admito, é um inferno)
Talvez por isso, ontem,  voltei a fazer orações pedindo a tua guarda. não quero esse poder de leoa que você disse que eu tinha. tenho me sentido tão pequena. não sei como você só consegue cuidar. eu apenas queria que você soubesse.. que ontem eu precisei dos teus cuidados e fiz uma prece. mas foi uma prece tão baixa, fraca, sem forças.. quase um sussurro infantil e rouco. e eu apenas queria saber se do alto das tuas nuvens de terra você conseguiu ouvir ao menos um  pedaço de eco. não tendo ouvido, te escrevo. eu apenas queria que você soubesse: és  meu anjo em verso. serás sempre.



Um beijo daquela flor.








descobri essa música. elas sempre cabem aos pensamentos que te deixo. certas canções que ouço... você sempre disse... cabem tão bem dentro de nós.


"O impossível carinho" - Manuel Bandeira in Libertinagem.

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