terça-feira, 5 de julho de 2011

O caso desinencial

Se sobrevivo, um dia  hei de ser alguém


Engraçado como todos os sete pecados estão no feminino, mas quem foi que se matou por ter inventado a bomba atômica?
Santos Dumont adorava brincar de aviãozinho e de fazer relógios bonitos até ver pra que começaram a usar seus bonitos e engenhosos brinquedos.
Che Guevara fez a revolução e depois foi embora pra Bolívia. Getúlio fez a única coisa que poderia fazer de decente na vida. Se matou.

 Ninguém lembra que as sete virtudes são todas femininas também, né? Claro que não. Importam os pecados, curiosamente  palavra masculina.

 Dos sete sacramentos, apenas dois são masculinos: o batismo e o matrimônio. A salvação é só pros judeus. Aí me vem Maquiavel dizer que é porque as mulheres não têm alma.
 Um professor de história, pregador da moral, que era casado mas que deu em cima de mim quando eu tinha doze anos só porque eu, aceitando uma aposta, acertei a frase de uma música pouco conhecida do Cazuza e dizia que ele era um porco chauvinista que só entendeu o que queria do Nietzsche  e do Schopenhauer, dizia que eu não poderia ir pro inferno (nem pro céu) por isso. Deve ter levado um chute  homérico um dia. Bem feito. E se dizia amante de Victor Hugo. Só se for  nos sentidos de hoje mesmo. Ou no sentido bem antigo. Melhor e clássico, como a hipocrisia de todas as épocas.

  Meu professor lindo, dos olhos mais lindos dos professores de olhos lindos do mundo, esse ser que acabou com a minha vida, só faltou chorar hoje quando eu disse que ele era mais preconceituoso e chato que eu, e por isso que eu não queria fazer mestrado, porque eu deixaria de gostar das coisas. Ele disse "não seja má comigo". Ganhou três rugas a mais  na testa porque não vai conseguir nunca mais conviver com a culpa de ter ferrado a minha vida  por ter  um dia simplesmente sugerido uma frase do Kafka e duas do Pessoa.
  Fraco. (se você estiver lendo isso, desculpe, deixe de ser um estressado, mas saiba que eu te adoro, apesar de você ser um destruidor de castelinhos de areia, ferrar meu pulmão com seu charmoso cigarro e ainda me mandar parar de reclamar da vida porque você está prejudicando minha saúde física, moral e cívica). Entretanto, ganhou duas estrelinhas quando disse uma coisa que eu sempre tentei dizer pro  mundo e ninguém entendeu: três motivos pra agora eu só escrever em tópicos - cínico, cético e breve. O que me lembrou outro professor da minha vida quando disse que o cinismo é uma qualidade intelectual. Incrivelmente, esses professores são amigos e ficam me empurrando pro outro dizendo: faz mestrado com ele e doutorado comigo. Dá vontade de largar os dois, não fazer porra nenhuma e dizer que eu não sou um saco de batatas e que o mundo acaba ano que vem, caso eles não saibam. (incrivelmente também, eles preferem Machado ao Eça, daí as batatas)

  Briguei com Shakespeare outro dia quando ele disse "fragilidade, teu nome é mulher". Mas depois descobri que a tradução certa era "teu nome é feminino", o que faz mais sentido, simplesmente por ser  óbvio. Não sei porque dizem que ele é gênio né? Simplesmente porque os homens não conseguem entender o óbvio. Aí agradecem à obra de arte por uma coisa que eles teriam aprendido se ouvissem suas mães, irmãs e avós. Mas não, esperam pra ouvir de um cérebro tão superiormente inferior. Aí pode.

  Certo dia, discutindo com um gramático, eu disse que concordava com as teorias que diziam que o "o" de menino não era desinência de gênero e, sim, vogal temática. Ou melhor, o "o" nem f*&¨% é desinência de gênero. E que a única exceção a essa regra (sempre tem, por isso adoro minha língua, porque me liberta dessas imbecilidades nem que seja por um fiapo de navalha) seria o "o" de feminino. Único gênero que existe. Ponto.

  Concordo também, apesar de não acreditar no espiritismo, que uma mulher nunca pode, em outra encarnação, vir como um homem, a não ser que tenha sido uma mulher muito ruim  na vida e esteja cumprindo um karma fodástico. Mas não preciso ser espírita pra isso. É só ler a orelha do livro do Darwin.

  Virgínia Woolf resolveu minha vida quando escreveu Orlando. Não vou colocar o conteúdo aqui. Mas é sobre um homem que vira mulher num passe de mágica. Não, não vira trans, nem gay, nem travesti, ele vira mulher. E só então entende o que ninguém conseguiu entender com o discurso da Antígona. Aliás, só um velho cego resolveu entender um fato: é irmã e amiga, não é mãe nem esposa. Então, ainda tem algum crédito. Falando em irmão, há pouco ele entra no quarto e diz que é pra eu parar de gritar no telefone que ele não tem culpa da  minha vida e precisa acordar às cinco. Mas aceita grito do sargento e depois vem perguntar por que eu não venho mais pra casa. Só não dou um fora porque ele é lindo e, como irmão pequeno e homem, não sabe porra nenhuma da vida.
  Minha cachorra reclama que eu acordo toda hora e não deixo ela dormir. Ela rosna e faz um barulhinho engraçado quando eu volto pra cama e se esconde debaixo do cobertor pra eu não expulsar ela. Meu cachorro, entretanto, quando eu chego em casa, primeiro ele foge pra rua, depois, na volta, ele me derruba no chão e me morde, como que dizendo: chegou essa hora por quê? Quem mandou você sair? E apesar de ele ter três vezes o tamanho dela, ele perde na briga. É por isso que eu digo, quando minha mãe diz que não quer filhote em casa: castre ele. Ela não tem nada a ver com isso.
 
 Vendo meus cachorros, penso que deve ser por isso que o Camelo namora a debilmental e fofa Malu Magalhães. Lembro quando ele disse: essa menina mudou a minha vida. Ela, com seus 16 anos e vinte e poucos centímetros, deve ter explicado pra ele que não adianta porcaria nenhuma escrever música bonita e ser um cachorro que te derruba no chão e te morde quando você chega em casa. Simplesmente porque o tombo dói e ela pode se quebrar.

 Que nenhum professor ou amigo universitário  me leia, mas hoje, depois da aula do Adorno e três discusrsos políticos, quis jogar todos os meus livros na privada e deixar apenas um. O mais chato, imbecil, fácil e clichê de todos. Clarice Lispector. Aquela doida, que, segundo os psicanalistas, só era assim porque teve problemas com o pai e com o resto dos homens.
É assim que se descobre o quanto sua carreira é piegas.. Quando você se identifica com um livro tão ruim.

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