segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Faxineira das canções

para Bê. Com vibrações  de som e fúria.  Porque sorte é para frangos.
 (e pros antropoliquetes parnasianos trotskistas, 
partido do qual você nunca admitirá fazer parte.. )



Sobre nuvens de fronhas e má educação.


O despertador acorda. Atrasada, como sempre. Mal dá tempo de coçar os olhos, pega toalha, banho e o primeiro vestido que vê. Sem passar. Vai assim mesmo. Desce as escadas, mal dá bom dia. Mal educada, não vê que tem gente? Não viu. "tô atrasada, mãe". "Bom dia", ao notar a diarista. Desde quando temos uma? Pensa  pra si. "Eu te falei dela". Ah sim, tinha, inclusive, que ajudar com a tal contratação. Pega um café, come de pé.
"Senta pra comer! Depois reclama do estômago. Tá sempre com pressa!". Tô atrasada! "Acordasse mais cedo, então". é, acordasse, mas, pra variar, não acordou.  Pensando já no caos do dia e no resultado de tanta pressa e tanto atraso, nota um som ao fundo. "lá vem a mãe com as breguices dela", comenta.  Mas a dona era outra. "é que eu gosto dele, espero que  não se importe". Percebe a música que toca. "não, não me importo.absolutamente.". Subitamente, pensa na coincidência das coisas, e na pieguice daquela letra, e deixa escapar um sorriso, que insiste em permanecer enquanto a música toca, e  cantarola baixinho, ao passo que as duas da cozinha se entreolham, sem entender aquela mudança brusca e repentina.
"Desde quando você gosta de Fábio Jr.???, achei que fosse brega..."

Sim, é brega. Sim, não gosto.
Só hoje.
A música termina, ela ri e  sai. Sem adeus.

"Liga não, moça, minha filha é doida  assim mesmo, viu? nem bom dia!até parece que não fui eu que eduquei... "

É. Até parece.


Faxineira das canções - Elizeth Cardoso.
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B: : cRica no pRay
K: ...tô bloqueada no tube! pra variar, a culpa é sua. clicar  no que?
B: tenta. outro link: 
K: Seu idiota! pra que me mandou isso?! agora vou ficar com a maldita na cabeça de novo. é a preferida da tia.
B: ainda nem sabe a coreografia. ;)
K: besta. ¬¬



sim,  ainda me deve a coreografia. e é "óbvio e ululante" que vou cobrar, com ou sem efeito de álcool. e também não precisa lembrar de tudo, só não deixo esquecer das promessas, principalmente das de bar, as mais verdadeiras. :)




p.s.: tá. eu admito. eu gosto do Fábio, mas ninguém pode saber, se contar, eu nego. Até a morte.

Trocinho ¬¬
=)

domingo, 21 de agosto de 2011

Simplesmente

..


"Saudade  a gente tem é dos pedaços de nó(s) que ficam pelo caminho".

Por ressuscitar essa canção pra mim, e me fazer ouvir de novo todas as músicas do  Mariano,  pela vontade de querer sempre retribuir de alguma forma a alegria e a paz que te trago pelo simples fato de existir em um pedaço de dia do seu ano  de tarefas sem fim, por me cantar sempre os melhores versos sem precisar saber nenhuma poesia. Por me encabular de elogios.  Por  me ver de  forma única e bela, por me fazer gostar um pouco  mais de mim, do Rio de Janeiro, da minha faculdade, da brasilidade que há   em nós, por me fazer enxergar a beleza que há nas coisas simples e mesmo nas pequenas tragédias cotidianas só pelo amor e  fé que tem na vida, que não te abala nunca.

Por isso, por fazer brotar sorrisos fáceis em mim sempre nos dias de lágrimas maiores, por ser meu lado b, meu lado bom, brasileiro, barulhento e divertido e livre e leve. Por querer simplesmente esperar a  eternidade de uma tarde ou de uma vida inteira pra concretização de um sonho que talvez não se realize nunca,mas de se contentar só por ter sonhado ou pelo gosto da esperança que ele te causa. Por não se importar de gastar com interurbanos só pra ouvir um pouquinho minha voz e me fazer rir com suas loucas histórias. Por também adorar ouvir minhas doidas histórias,  por achar certo e querer se ajustar ao meu torto e gauche modo de vida. Por achar minha "complexidade" perfeita e simples. Por dizer querer aprender até o que não sabe só pra poder me ensinar quando eu precisar. Por me apresentar e me fazer querer viver um pouco do teu  way of life e do nosso poeta preferido. 

Por todos os mais e além do mais, sem precisar ter me dado tantos argumentos pra me convencer de ter uma companhia tão já facilmente aceita, por me fazer  desejar ser essa pessoa  que se  me veem os teus olhos infantis e bonitos. Pela troca de momentos, músicas,  filmes.. Pela dança que nunca tivemos. Pela saudade maior que une os  quilômetros de distância que nos separa. Por conseguir me fazer querer reouvir e reviver coisas que já pensava ter jogado no lixo da memória (que só  você consegue  com um simples, convencido e atrevido pedido de "ah,vai, eu  mereço"). Por  me ensinar a lição do amor (nada) simples do Jair. 

Por isso e tudo o mais que me trouxe na vida e nesse dia tão triste em especial, simplesmente é impossível não lembrar  de você sempre com a maior ternura que possa existir em mim. Porque você foi meu melhor carnaval, o melhor enredo, a melhor trilha sonora daquele  ano. Por tudo isso, elementar, meu caro, amar  você também é fácil e simples. Assim como  fácil e simples também é explicar essa nossa imensa e eterna saudade. 









sábado, 20 de agosto de 2011

Que dance a linda flor girando por aí

às 5:50 a.m,
 sonhando com  amor sem dor, amor de flor 
querendo a flor que é, no sonho a flor que vem
Ser duplamente flor, encanta colore e faz bem



(...)
Não, o tempo não chegou de completa justiça.

O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.


O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse. 



Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.



Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! 

Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu
. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.

É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas
é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.



(Drummond)
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Sim, Drummond, em meio à toda náusea pintada de cinza, garanto que uma flor nasceu. Suas pétalas não se abrem, mas se sabem fotografar, seu nome não está nos livros, mas está entre todos eles, sua cor ninguém percebe (a vida é burra, a tal flor só abre para raros), mas tem, tem cor, eu sei. Seu tempo já chegou. Nasceu às dez pras seis, é linda. Tem a cor.  lilás.






e, sim: pelo sangue nordestino, pelas hienas, pela companhia de cela no séc XVIII ou XIX ou seja lá qual for, no pior  e no melhor dos dois.  pelo pôr do sol no arpoador,  ... por isso e todos os mais e além dos mais, obrigada eu.


e hoje eu vou ficar feliz, mas é só por e pra você. 











sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Autobiografia sem fatos

Transição romântico-realista-moderna

E do alto da majestade de todos os sonhos, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.

caçadora de magia, seguidora convicta da escola DuBoísta-Bovaryana, dependendo sempre da boa vontade de estranhos. caindo sempre na ilusão de que se pode não ser só. tendo a melancolia como hábito e a paz de espírito por desespero. recorte-colagem de discursos alheios. bisbilhotecária-procrastinadora-defenestradora. 
musa ideal de Woody Allen e Almodóvar. clichê barato do coração dos corações de Caio. ninfa ilusionista das odisseias de Homero. pluricelular. antissocialista pluripopular. infância e maturidade por profissão ou pura vontade. crítica voraz das relações de si consigo  mesma. pedra de tropeço do sapato de Drummond. a letra A do seu nome, N do nosso elo.  frase melancólica do corvo de Poe. lira de Davi. vitrine da Garota. verde-musgo de Eça. reflexões paradoxais de Fernando. exceção que faltou à regra. vírgula instante de texto burocrático. rima que não encaixa de poeta parnasiano. 
V de Souza. trigésimo segundo capricho de Goya.
Estante da biblioteca de Borges. sétima face do Gauche. ressaca de Capitu. nota de rodapé de texto não escrito. impúrpura rosa do Cairo.  musa afogada de Camões. dor de cabeça de Luísa. monumento à aspirina de Cabral. azul de Pena Filho. londres de Virgínia. calcanhar de Aquiles. saudade do fado.
aspirante a qualquer coisa.
coisa alguma

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aí vem um Eça e um Fernando e dizem: espere, pare,olhe, respire, retorne. tá tudo errado. vai começar tudo de novo. Sim, de novo.

Manueis malditos.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Entre o Hades e o Olimpo







Iam os dois pela noite afora, falando de amenidades, ironizando a brevidade tediosa da vida. E conversavam sobre mortais e deuses, suspirando embriagados pelo tal néctar de Dioniso.

- Mas, por que Hera? Por que não a beleza estonteante de uma ninfa, ou a avassaladora da doce Helena?
- Ora, porquê! Não sabe que os gregos fizeram os deuses à sua imagem e semelhança?
- É o que dizem...
- Pois bem, não precisaria mudar muito, meus defeitos somariam-se aos poderes avassaladores da deusa. Os ardis! E os ardis?! Tudo se justificava!
- Isso lá é verdade. De fato, caprichosa e ciumenta você já é. E é o que tem de mais engraçado, sempre me divirto muito quando joga fora toda o seu recato e me aparece com seus ataques de cólera. Tão esquentada...

Ela ria, ruborizada, realmente perdia as estribeiras.

- Então, só me falta a divindade. E os poderes, é claro.
- Mas Hera?! não é a  dos amores normais? Você costuma ser tão desejosa de intensidade,sempre buscando por aí uma paixão arrebatadora... é, no mínimo, curioso...
- Entre outras coisas, os amores, sim. Mas disse bem: buscando, nunca encontrando. E a vida não é assim? Um monumento à mesmice? Sempre desabando os castelos a golpes de tédios e racionalismos. É a vida. Eu, sendo Ela, ao menos poderia ser da minha uma rainha.
- Uma deusa!
- Sim, uma deusa!

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Para C., porque confessou que também gosta dos defeitos da deusa, compartilhando do mesmo espírito..
apolínio ou dionisíaco? whatever,  porque você gosta, ponto.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Séria constatação na vida... II

.


"O tempo ainda é de fezes, maus poemas, alucinações e espera".


|C. Drummond - A flor e a náusea;  em cada gota de verso|.







à parte isso  -  a despeito de tudo isso -  garanto que uma flor nasceu.

domingo, 14 de agosto de 2011

The one last time


... try to understand that I'm
trying to make a move just to stay in the game
I try to stay awake and remember my name
But everybody's changing and I don't feel the same
(and I don't feel right)
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Essa música tem insistido em traduzir essas coisas.


sábado, 13 de agosto de 2011

das palavras e das coisas

- ... e eu não sei explicar o que quis dizer com isso, mas também não importa, é o que causa.
-  é uma palavra que define bem mesmo. (aliás, eu adoro essa música, adoro cantores nordestinos, e fica linda na voz dela....  e, é lógico que você não conhece).

- enfim, é uma palavra que define bem.





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Frisson - Composição: Tunay / Sérgio Natureza (mas na voz da Elba, tocada pelo Geraldo,com todas as  lembranças de família e infância)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Till it happens to you



 two for sorrow, one for joy, sometimes you will lose, sometimes you lose.








Porque essa música não para de tocar, thought you should know by now.


Suburbano coração



Hoje eu acordei com medo mas não chorei, nem reclamei abrigo. 
Do escuro, eu via o infinito sem presente, passado ou futuro(...)
já não era medo, era uma coisa sua que ficou em mim e que não tem fim. 
De repente a gente sente que perdeu ou está perdendo alguma coisa, 
morna e ingênua que vai ficando no caminho, que é escuro e frio, 
mas também bonito, porque é iluminado 
pela beleza do que aconteceu há minutos atrás.



Porque hoje, voltando pra casa por um caminho estranho e escuro, pensando e reescrevendo mais um capítulo do  meu livro cansado de nunca se escrever, percebi ao longe essa música, o poema que tanto traduziu em cada pedaço de  letra os  meus dias, e que remonta tanto aos tempos de adulta inocência pelos quais já precisei passar. Comecei a pensar em como certas músicas continuam fazendo  todo o sentido pra mim, mesmo com todos os acontecidos dos idos anos, muitas só servem pra  intensificar ainda mais esse tipo de certeza. Fui em seu rastro sem ligar pro horário avançado ou pro perigo de ser uma menina sozinha e cansada, com  um pé sangrando, voltando de um dia pior que de um cão, com seis livros pendurados numa mochila que levanta o vestido e que só se percebe quando escuta a primeira gracinha nas ruas. E fui atrás e não me importei com a solidão, nem com os perigos imaginários ou reais das ruas da meia-noite, nem com o celular fora da área de cobertura. Achei o lugar perto da estrada, e não me importei também em sentar no meio-fio e deixar passar todas as conduções que me levariam pra casa enquanto a música não terminasse e a dor não passasse também. Nem no ridículo ou nonsense de tudo isso, nem no que pensariam de uma garota parada numa calçada, com bolsa de gente grande e roupa de segunda-feira chorando no chão sujo com uma seta no calcanhar.
A música passou, a dor secou, pelo menos por ora, começou a tocar Take toke, a melhor música da melhor novela que eu já assisti. Um carro parou, um homem chamou, uma porta abriu, eu entrei e fui embora. 

Essas coisas só posso fazer aqui.



Suburbano Coração - Chico Buarque. Sim, mais ainda. http://letras.terra.com.br/chico-buarque/86055/

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Do princípio das certezas - breve olhar antropológico sobre a dúvida

para  B


livro do desassossego- bernardo soares

Ainda vou entender esse cara, como nunca ninguém entendeu.
Só pra isso.

...





Sobre uma pergunta feita por um sociólogo de bar.

domingo, 7 de agosto de 2011

Lamentações de um texto inescrito

"Que grandes aspirações! Que magnas plenitudes! E algumas verdadeiras…
Mas sobre todas elasPuseram-me um tampa. (...) Uma tampa".
A.C.




Eu bolei uma frase genial a ser continuada por palavras e ideias incríveis e grandiosas dignas  de um diálogo buarque-borgeano.

Mas a inútil aqui não me escreveu.









 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Uma parte que não tinha


Todo ser seria. Todo rio riria
Toda flor folia abajour pra escuridão
Toda brincadeira começa com alegria...


O Circo 


Fez primeiro um circo para brincar a sua dor. E brincou como se não doesse.Fez um baile inteiro, como se fosse orquestra. E cantou, dentro do imenso salão de sua vida, músicas que aprendera na infância. Fez depois um parque para brincar seu desencanto. E brincou como se desencantado não fosse. E se fez mais amplo do que a possibilidade pode possibilitar. E cresceu tanto que o mundo desapareceu. Depois fez um rio para brincar os seus olhos. E brincou como se as paisagens ainda existissem. (...) Percorreu incríveis distâncias por nada. Mas insistiu com seu sorriso e na sua verdade. As cores frágeis dos objetos não importavam. Importava sim, esse instante em que o espírito se solta e procura o voo da pomba invisível, assim como ele se fez e se desenhou no caderno branco do seu próprio destino. Depois, calou seus acenos, e do frio fez calor, e do inverno inventou as chuvas para lavar as pessoas. Passou a vida inventando uma maneira para viver. E, inventando uma maneira para viver, não achou seu motivo. Procurou então dentro da terra. E depois dentro dos templos. E depois nos grandes desertos. E depois nos oceanos. Fez um dia um barco de papel e navegou com ele a sua incerteza. No fim do rio, já não restava nada, mas achou que fez bem em tentar. (...) Fez primeiro um circo para brincar a sua dor. Todo o resto foi decorrência, sem nenhuma explicação.
|O Circo – Alves de Faria|
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Que a certeza não escorregue. 


Reciclar a palavra, o telhado e o porão... Reinventar tantas outras notas musicais...
                     Escrever o pretexto, o prefácio e o refrão... Ser essência... muito mais..A porta aberta, o porto acaso, o caos, o cais...



E por tanta exposiçao a disposiçao cansou.



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Das traduções vividas II


Legato


Abre os olhos e reconhece a rua. As casas à esquerda tão iguais e tão diferentes. Ela diz a si mesma “vai passar, isso vai passar”, e as gotas cada vez mais estáticas do céu. Sacode os pés encharcados e percebe a infinidade que o gelado da água a leva a abandonar. Não há nem sequer um “se”. Tudo: uma réstia de samambaia pendurada de uma janela erma, o sorriso minúsculo das poças de água sob os varais comedidos, procissões de passos e suspiros sob o sono dos toldos. Cheiros e gostos irreconhecíveis e insondáveis pela bruma. Uma louça ao chão. Bater de talheres. Som rouco de matraca. Tudo calculado (uma vez que o caos é Deus caprichando).

            Ela, parada, no meio. Tenta não reconhecer a rua. E os enormes canteiros de obras que escondem um pensamento de não vir. E um avião que cruza o céu silente e penosamente. E uma família que bem pode ser a sua, acenando de várias janelas. E os pombos, encharcados, comendo migalhas adocicadas de água nuvosa.

            Aí ela finalmente se esquece da rua, e vira estrada.
                                                                                                                    
 C. Bastos.
           

Não por acaso (uma autobibliografia sem fatos)

porque eu era labirinto, e hoje, quando me sinto, é com saudades de mim. 
(sá carneiro, não por acaso, meu melhor amigo)


"A Decadência é a perda total da inconsciência; porque a inconsciência é o fundamento da vida. O coração, se pudesse pensar, pararia." (primeiro fragmento descoberto)


Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.

"Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. Pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo. 


Um dia, lá para o fim do futuro, alguém escreverá sobre mim um poema, e talvez só então eu comece a reinar no meu Reino."
(Bernardo Soares, meu livro do desassossego)
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 porque hoje eu quero que falem de protestos e falimentos por mim, porque há dias em que tudo nos cansa, até o que nos repousaria. 


Assinado Eu,
 eu mesmo...eu, cheio de todos os cansaços quantos o mundo pode dar.
 – Eu... Afinal tudo, porque tudo é eu, e até as estrelas, ao que parece...
(Fernando Pessoa)




Querido Jorge, acho que encontrei o Livro dos Livros. Sim, é o (meu) universo multi-hexagonal.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Tal qual os asnos..

.

Como diria Iago: Pelo sim, pelo não, ponto reticências.










("se é certo, ignoro-o".)

Cassandra's Dream

à deusa  Têmis.


e eu, que queria ser medeia triunfando no carro de sol apolínio,  rendida aqui, parada, estagnada. nesse cenário esdrúxulo de último pedaço de ruína, inebriada pelos furores de dioniso,  dançando a pior das canções de uma joana qualquer .
esses gregos. por que essa insistência toda?
                                         -  moiras malditas...  ultrapassaram todos os métrons.






 hoje eu queria apenas ser a nêmesis de nix, e eros, do deus de zeus, do pai de ares, de todas as erínias enfim. estou farta de todos eles. Onde é que há gente mesmo?