domingo, 29 de julho de 2012

Literatura comparada

O mal de viver a literatura antes da própria vida: já saber antes do início qual será o meio e o desfecho desse livro.
Shakespeare já cantou a pedra muito antes de nós...








segunda-feira, 11 de junho de 2012

seems like pretending


We loved, we laughed, we cried,
...the story ends
and we're just friends.



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(but not like before)


terça-feira, 5 de junho de 2012

De acostumar

A: você  é um péssimo amigo, sabia?
B: Sou um péssimo muitas coisas.
A: você já me amou mais
B: Ainda amo, só não posso resolver sua vida infelizmente. E vice-versa.
Quem dera né Lili?
A: "não sei por que você  não me alivia a dor". Você  precisa ser menos realista,  a verdade tem doído  tanto ultimamente.
(é, quem dera)
B: Nem dói. Tem que se acostumar, Lili.
A: posso até me acostumar...
mas nem de longe vou ficar mais feliz com isso...


♪Acostumar

quinta-feira, 31 de maio de 2012

One art

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério. ”



(Elisabeth Bishop)
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Now I must wave goodbye...

domingo, 27 de maio de 2012

sábado, 26 de maio de 2012

24-25

Dreams burn but in ashes are gold.


O que nós construímos é  maior que a soma de dois.

yearning for a ticket out

domingo, 20 de maio de 2012

Ouch

 - Preciso ver isso. Acho que tem alguma coisa fora de controle dentro de mim.
 - E por acaso alguma vez na vida você teve controle sobre algo dentro de você?
 - É. Você tem um ponto...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

No desalinho triste das minhas sensações confusas


Uma tristeza de crepúsculo, feita de cansaços e de renúncias falsas, um tédio de sentir qualquer coisa, uma dor como de um soluço parado ou de uma verdade obtida. Desenrola-se-me na alma desatenta esta paisagem de abdicações — áleas de gestos abandonados, canteiros altos de sonhos nem sequer bem sonhados, inconsequências, como muros de buxo dividindo caminhos vazios, suposições, como velhos tanques sem repuxo vivo, tudo se emaranha e se visualiza pobre no desalinho triste das minhas sensações confusas.
(Livro do Desassossego - Bernardo Soares)

terça-feira, 15 de maio de 2012

Forgive me

E quando a gente se vê de fora e não gosta do que vê? 
Eu tinha pra bater no mundo inteiro, menos em você. 

So please forgive me for when I sing this song.




domingo, 13 de maio de 2012

Due poverelli

sobre músicas, amor e neurolinguística


B: não sei porquê, não sai da minha cabeça. quando cheguei, fui ver a tradução e concluí não só que meu subconsciente fala italiano, como é profunda e irremediavelmente piegas.

A: ho capito che il tuo subconscio è anche un poverello perso in questa noia d'amore...


Musica: Due - Renato Russo

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Da gravidade

A- Deviam inventar um celular anti-impulsos-emotivos. Você leva um choque quando vc discar determinada combinação de números.

B - já existe isso, é um aplicativo. se chama minha mão na tua cara sempre que você tiver essas ideias ridiculas.

A- poxa, quase fiquei feliz.

B- mas você sabendo que o erro é causado pelo app, você iria desligar, porque não se controla.
  • A- (eu ia mesmo... mas deixa eu me iludir). mas tem que dar choque, não completar a ligação não basta.
  • B- aahahha. Tu tem é que tomar vergonha na cara.

  • A- falando nisso, quão grave é você contar suas lamúrias até pra sua prima teenage e perceber que ela tá na mesma situação que você?

    B- Grave. Muito grave.
    Vergonha na cara. Importante pra caralho.

    A- artigo de luxo ultimamente.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

This little space in between

"If there's any kind of magic in this world, it must be in the attempt of understanding someone, sharing something. I know, it's almost impossible to succeed, but…who cares, really? The answer must be in the attempt.





Isn't everything we do in life a way to be loved a little more?"


segunda-feira, 7 de maio de 2012

One day

Encerrara as páginas do livro. Um pouco nostálgica. Um pouco triste e abalada pelo que acabara de acontecer. Às vezes sentia que vivia mais naquelas páginas do que em sua própria realidade. "Acho que a realidade é algo superestimado", lera páginas atrás. Ela concordava. De fato, parecia uma frase que ela diria, daí a familiaridade com  a ficção.
Com a vista embaçada após mais de 15 horas ininterruptas de leitura, levantou-se e olhou os livros da estante. Tantas histórias vividas...
Deparou-se enfim com um volume em especial e o abriu. Era uma página dedicada. Já fazia um tempo, pensou.
Podia ter sido escrito por ou para qualquer um. Podia ter lido coisas mais bonitas na vida. Mas aquela letra gauche, aquelas palavras, aquela mancha de tinta definitivamente despertavam-lhe afeição. Concluiu que ainda gostava muito daquelas desencontradas palavras, havia ainda um carinho ali, um inferno.
Pensou em dizer algum dia, de forma descontraída, sobre aquilo tudo, aquela constatação, mas depois percebeu que poderia ser  mal compreendida - não era raro acontecer.

Querendo pôr fim àqueles pensamentos, fehou o livro e o colocou novamente na estante.

Alguns dias eram assim. Emma Morley não sabia o que querer da vida.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Dos finais

 - E aqui tens tu uma existencia d'homem! Em dez annos não me tem  succedido nada, a não ser quando se me quebrou o phaeton na estrada de Saint-Cloud..: Vim no Figaro.
       Ega ergueu-se, atirou um gesto desolado:
       - Falhámos a vida, menino!
- Creio que sim... Mas todo o mundo mais ou menos a falha. Isto é falhase sempre na realidade aquella vida que se planeou com a imaginacão. Diz-se:  «vou ser assim, porque a belleza está em ser assim». E nunca se é assim, é-se  invariavelmente assado, como dizia o pobre marquez. Ás vezes melhor, mas sempre differente.
       Ega concordou, com um suspiro mudo, começando a calçar as luvas.
       O quarto escurecia no crepusculo frio e melancolico d'inverno. Carlos pôz  tambem o chapéo: e desceram pelas escadas forradas de velludo côr de cereja,  onde ainda pendia, com um ar baço de ferrugem, a panoplia de velhas armas. Depois na rua Carlos parou, deu um longo olhar ao sombrio casarão, que n'aquella primeira penumbra tomava um aspecto mais carregado de residencia  ecclesiastica, com as suas paredes severas, a sua fila de janellinhas fechadas,  as grades dos postigos terreos cheias de treva, mudo, para sempre deshabitado,  cobrindo-se já de tons de ruina. Uma commoção passou-lhe n'alma, murmurou, travando do braço do Ega:
       - É curioso! Só vivi dois annos n'esta casa, e é  n'ella que me parece estar  mettida a minha vida inteira!
       Ega não se admirava. Só alli no Ramalhete elle vivera realmente d'aquillo  que dá sabôr e relevo á vida - a paixão.      
 - Muitas outras coisas dão valor á vida... Isso é uma velha idéa de romantico, meu Ega!
       - E que somos nós? exclamou Ega. Que temos nós sido desde o collegio,  desde o exame de latim? Romanticos: isto é, individuos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão...      
      Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses  que se dirigiam só pela razão, não se desviando nunca d'ella, torturando-se  para se manter na sua linha inflexivel, sêccos, hirtos, logicos, sem emoção até  ao fim...
       - Creio que não, disse o Ega. Por fóra, á vista, são desconsoladores. E por  dentro, para elles mesmos, são talvez desconsolados. O que prova que n'este lindo mundo ou tem de se ser insensato ou sem sabor...
       - Resumo: não vale a pena viver...
- Depende inteiramente do estomago! atalhou Ega.
      

Riram ambos. Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua theoria da vida, a  theoria definitiva que elle deduzira da experiencia e que agora o governava.
Era o fatalismo musulmano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a  uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquillidade  com que se acolhem as naturaes mudanças de dias agrestes e de dias suaves.  E, n'esta placidez, deixar esse pedaço de materia organisada, que se chama o  Eu, ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo... Sobretudo não ter appetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.
       Ega, em summa, concordava. Do que elle principalmente se convencera,  n'esses estreitos annos de vida, era da inutilidade do todo o esforço. Não valia  a pena dar um passo para alcançar coisa alguma na terra - porque tudo se resolve, como já ensinára o sabio do Ecclesiastes, em desillusão e poeira.      

- Se me dissessem que alli em baixo estava uma fortuna como a dos Rothschilds ou a corôa imperial de Carlos V, á minha espera, para serem minhas se eu para lá corresse, eu não apressava o passo... Não! Não sahia d'este passinho lento, prudente, correcto, seguro, que é o unico que se deve ter  na vida.
       - Nem eu! acudiu Carlos com uma convicção decisiva.
       E ambos retardaram o passo, descendo para a rampa de Santos, como se  aquelle fosse em verdade o caminho da vida, onde elles, certos de só encontrar  ao fim desillusão e poeira, não devessem jámais avançar senão com lentidão e  desdem. Já avistavam o Aterro, a sua longa fila de luzes. De repente Carlos teve um largo gesto de contrariedade:       - Que ferro! E eu que vinha desde Paris com este appetite! Esqueci-me de mandar fazer hoje para o jantar um grande prato de paio com ervilhas.
       E agora já era tarde, lembrou Ega. Então Carlos, até ahi esquecido em  memorias do passado e syntheses da existencia, pareceu ter inesperadamente consciencia da noite que cahira, dos candieiros accêsos. A um bico de gaz tirou o relogio. Eram seis e um quarto!
       - Oh, diabo!... E eu que disse ao Villaça e aos rapazes para estarem no Braganza pontualmente ás seis! Não apparecer por ahi uma tipoia!...
       - Espera! exclamou Ega. Lá vem um «americano», ainda o apanhamos.
       - Ainda o apanhamos!
       Os dois amigos lançaram o passo, largamente. E Carlos, que arrojára o  charuto, ia dizendo na aragem fina e fria que lhes cortava a face:
       - Que raiva ter esquecido o paiosinho! Emfim, acabou-se. Ao menos assentamos a theoria definitiva da existencia. Com effeito, não vale a pena fazer um esforço, correr com ancia para coisa alguma...
       Ega, ao lado, ajuntava, offegante, atirando as pernas magras:
       - Nem para o amor, nem para a gloria, nem para o dinheiro, nem para o poder...
       A lanterna vermelha do «americano», ao longe, no escuro, parára. E foi  em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço:
       - Ainda o apanhamos!
- Ainda o apanhamos!
       De novo a lanterna deslisou, e fugiu. Então, para apanhar o «americano»,  os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela rampa de Santos e  pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.

Os Maias.

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Obrigada, Eça.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Allegretto

Tateia o chão seguro e compassivo: de cor repleta de vontades náufragas, gravetos de marrom despedaçado, paralelepípedos em clausura, enverdecidos de um cinza mornado, que esbarram no horizonte desmaiado. Ela corre as distâncias no olhar seco, ela corre os tornados tropicais, ela corre os tornados combalidos, pelo precioso colar da febre. São roseolhos tisnados, sofridos; e feridas alcantilopalinas; são corpos azulentrechocados. Mas também há flores e borboletas, e nelas qualquer cor é muito pouca, pois não há nada mais descabido, que contar o oportuno da rosa. O cheiro de café nas folhas soltas, de terra subindo durante o passo, de velha madeira de dar em doido, de correr mais do que o suor comporta. Cheiro de torto nos pulmões que enxergam: a grama levantada pela foice, de ar gelado de serra venturosa, de ladeira descida às baforadas, de todos os caminhos dos seus dedos.




Gosto de lençol apertado em pernas, de framboesa sob a pele enxuta. Amanitas servidas ao café. Ponta da língua ocultando o sutil, o doce do olhar do suor do outro. A terra subindo, entrando na boca. Enquanto os abraços trocam de dono. Há sentido infinito em alcançar, com o paladar anestesiado, o corpo reclinado e solto, os cotovelos que apoiam a matéria, o recôndito d’alma descoberta.



Ela se ilude com o tempo, mas aí tateia o chão seguro e compassivo.



C. Bastos

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Stay out of trouble

I wish i had your scarf still, that once embraced and kept me

Warm.
I wish you could be with me, in these last days when i am still
Hopelessly poor

Stay out of trouble, stay in touch. Try not to think about me to much

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Dois

Pois não há tempo que se esqueça de minar as forças
Tampouco, resista travestido de sorte zombeteira
Indo e vindo deixa sempre o gosto do nosso gosto
Quando se percebe que tudo apenas resta
(Antônio L. Pereira)
Ophelinha:


Agradeço a sua carta. Ella trouxe-me pena e allivio ao mesmo tempo. Pena, porque estas cousas fazem sempre pena; allivio, porque, na verdade, a unica solução é essa - o não prolongarmos mais uma situação que não tem já a justificação do amor, nem de uma parte nem de outra. Da minha, ao menos, fica uma estima profunda, uma amisade inalteravel. Não me nega a Ophelinha outro tanto, não é verdade?

Nem a Ophelinha, nem eu, temos culpa nisto. Só o Destino terá culpa, se o Destino fosse gente, a quem culpas se attribuissem.

O Tempo, que envelhece as faces e os cabellos, envelhece tambem, mas mais depressa ainda, as affeições violentas. A maioria da gente, porque é estupida, consegue não dar por isso, e julga que ainda ama porque contrahiu o habito de se sentir a amar. Se assim não fosse, naão havia gente feliz no mundo. As creaturas superiores, porém, são privadas da possibilidade d’essa illusão, porque nem podem crer que o amor dure, nem, quando o sentem acabado, se enganam tomando por elle a estima, ou a gratidão, que elle deixou.

Estas cousas fazem soffrer, mas o soffrimento passa. Se a vida, que é tudo, passa por fim, como não hão de passar o amor e a dor, e todas as mais cousas, que não são mais que partes da vida?

Na sua carta é injusta para commigo, mas comprehendo e desculpo; decerto a escreveu com irritação, talvez mesmo com magua, mas a maioria da gente - homens ou mulheres - escreveria, no seu caso, num tom ainda mais acerbo, e em termos ainda mais injustos. Mas a Ophelinha tem um feitio optimo, e mesmo a sua irritação não consegue ter maldade. Quando casar, se não tiver a felicidade que merece, por certo que não será sua a culpa.

Quanto a mim…

O amor passou. Mas conservo-lhe uma affeição inalteravel, e não esquecerei nunca - nunca, creia - nem a sua figurinha engraçada e os seus modos de pequeneina, nem a sua ternura, a sua dedicação, a sua indole amoravel. Pode ser que me engane, e que estas qualidades, que lhe attribúo, fossem uma illusão minha; mas nem creio que fossem, nem, a terem sido, seria desprimor para mim que lh’as attribuisse.

Não sei o que quer que lhe devolva - cartas ou que mais. Eu preferia não lhe devolver nada, e conservar as suas cartinhas como memoria viva de uma passado morto, como todos os passados; como alguma cousa de commovedor numa vida, como a minha, em que o progresso nos annos é par do progresso na infelicidade e na desillusão.

Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infancia, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras affeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memoria profunda do seu amor antigo e inutil.

Que isto de “outras affeições” e de “outros caminhos” é consigo, Ophelinha, e não commigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existencia a Ophelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais á obediência a Mestres que não permittem nem perdoam.

Não é necessario que comprehenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.



Fernando
 
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Porque é triste, injusto e inútil.
 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Deu Bandeira

Hoje, 19/04, seria o aniversário do "poeta que falou o português gostoso do Brasil", como disse um amigo meu. 126 anos de viagens a Pasárgada, pneumotórax, de impossíveis carinhos. 126 anos da Estrela da vida inteira. Não teve homenagem no Google, mas tem aqui. Lembranças ao poeta sórdido.

Nova Poética




Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.

Vai um sujeito,
Sai um sujeito com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama:
É a vida.


O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.